Em uma época onde novas ferramentas de comunicação e de sociabilidade nos obrigam a rever conceitos e comportamentos, o espetáculo teatral “Subcutâneo” traz reflexões de até onde a situação sócio-política de um país pode chegar. A peça é uma das atrações do projeto Boca de Cena – Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro e Circo 2016 e será encenado no dia 21 de abril (quinta), às 20 horas, no Teatro Aracy Balabanian, do Centro Cultural José Octávio Guizzo. A classificação da peça é para maiores de 16 anos.
Produzido em Campo Grande ainda no ano passado, “Subcutâneo” estreou em maio de 2015 durante o evento Luz na Rodô, na antiga rodoviária da Capital. No Universo de “Subcutâneo” as coisas realmente vão mal: Com um novo governo intolerante às diferenças culturais, exacerbado após um golpe político, o Estado deixou de ser laico e as minorias passaram a ser exterminadas, sem dó nem piedade, deixando os sobreviventes incapazes de se aprimorar.
Para o ator e diretor da peça, Leandro Faria (ou Lelo, como é conhecido), “Subcutâneo” é uma verdadeira crítica social e chega exatamente em um momento ideal diante a situação crítica na política do país. “O texto contém toda uma analogia com o que está acontecendo e por isso vem em bom momento, diante de tudo o que estamos vivendo na política hoje. É como um insight que vem e às vezes até me assusta. A gente sente, vê que está tudo errado, que algo não cheira bem. Então surge a ideia de criar algo que contribua e estimule um pensamento crítico”, explica.
No palco, Luma e Isis, dois personagens ora masculinos, ora femininos interpretados por Leandro e Philipe Faria, vivem em um prédio abandonado, um pequeno espaço confinado, digno de causar fobia. Tudo o que eles têm é a companhia um do outro e precisam se disfarçar e se arriscar nas ruas para não serem assassinados por suas diferenças. Completando a dramaturgia, a trilha sonora criada por Philipe que também é músico e a iluminação de Thiago Pacheco vão de encontro às exaltadas variações de humor dos personagens e ajudam a descrever a repressão do governo sobre a população. “A trilha sonora é um dos elementos principais da peça, junto com a iluminação. Elas dialogam e fluem como uma narrativa. Tudo vira um signo, uma comunicação e amplia a visão da profundidade cênica, são conceitos e necessidades que tem um porque de existir”, conta Leandro.
O Diretor – Sempre quis ser ator, mas foi estudando artes cênicas em São Paulo que descobriu o talento para fazer ainda mais, e logo passou a escrever e dirigir. Leandro Faria fez novelas em São Paulo e “pegava tudo o que apareceria”, segundo ele. Em 2009 veio para Campo Grande e no mesmo ano passou a ministrar oficina de teatro no Centro Cultural José Octávio Guizzo.
“Fiz novela, propaganda e tudo o mais. Estudei direção e todos os elementos do teatro. Como tinha família em Campo Grande, vim pra cá e criamos uma oficina que durou 5 anos. Trabalhávamos conceitos básicos e necessidades do teatro, desde a articulação, fala, estudo até a postura cênica. Muitos que passaram por ela desenvolvem hoje seus trabalhos de dramaturgia. Depois até montamos um grupo com a galera que ficou na oficina. Era Inocência, adaptação do romance de Visconde de Taunay ”, lembrou.
Sobre a Mostra Sul-Mato-Grossense de Teatro e Circo – Boca de Cena, ele acredita que além de ser um elemento importante para a formação de público e novos fazedores cênicos, contribui também para a transformação social. “Se houvessem mais eventos como esse, se todo lugar incentivasse um pouco mais essa troca que a arte proporciona talvez esse mundo que a gente vive fosse um pouco melhor”, opinou.
Serviço – Os ingressos devem ser retirados uma hora antes do inicio do espetáculo na bilheteria do teatro. O Centro Cultural José Octávio Guizzo fica localizado na rua 26 de Agosto,453, entre a avenida Calógeras e a rua 14 de Julho.
Texto: Alexander Onça
Publicado por: jgribeiro